“O centenário do decreto Quam singulari é uma oportunidade providencial para lembrar e insistir em que as crianças tomem a primeira comunhão tão logo atinjam a idade da razão, que hoje parece até ter-se antecipado. Não é recomendável, portanto, a prática cada vez mais comum de aumentar a idade para a primeira comunhão. Pelo contrário: é preciso antecipá-la ainda mais.” São palavras extraídas de um artigo do cardeal Antonio Llovera Cañizares, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, publicado no L’Osservatore Romano de 8 de agosto de 2010. O artigo do cardeal Cañizares sugeriu-nos o conteúdo da seção “Nova et Vetera” deste mês: é um artigo de Lorenzo Cappelletti de abril de 1998, no qual, entre outras coisas, são reapresentados os oito pontos normativos do decreto Quam singulari, promulgado em 1910 por Pio X. O papa Sarto, que já em 1905, ao publicar o decreto Sacra Tridentina Synodus, tinha convidado todos os fiéis na idade da razão à comunhão frequente – hábito que se enfraquecera fortemente desde a época em que o “contágio do jansenismo” se “espalhou por toda parte” –, com o decreto Quam singulari regulou a admissão das crianças à confissão e à comunhão.
Esse mesmo importante documento foi objeto de atenção do cardeal Darío Castrillón Hoyos, então prefeito da Congregação para o Clero, em 2005, por ocasião do Ano da Eucaristia. Numa carta enviada a todos os sacerdotes, o cardeal explicava: “Não são poucos os que, ao lado de São Pio X, estão convictos de que essa prática de levar as crianças a terem acesso à primeira comunhão a partir da idade de sete anos trouxe à Igreja grandes graças. Não nos devemos esquecer, além de tudo, de que na Igreja primitiva o sacramento da eucaristia era administrado aos recém-nascidos, logo depois do batismo, sob a espécie de poucas gotas de vinho. Permitir que as crianças possam receber Jesus eucarístico o mais cedo possível foi, por muitos séculos, um dos pontos firmes da pastoral para os menores na Igreja, costume restaurado por São Pio X em sua época, e louvado por seus sucessores” (cf. 30Dias, nº 1/2, 2005, pp. 16-18).
A tendência hoje comum a adiar a admissão à primeira confissão, à crisma e à primeira comunhão talvez constitua o indício mais grave da ainda extensa e ativa presença da heresia de Pelágio, “que tem hoje muito mais seguidores do que pode parecer à primeira vista”, como observou em 1990 o então cardeal Ratzinger no Meeting de Rímini. De fato, o pensamento pelagiano induz a considerar os sacramentos como um prêmio que deve ser concedido a quem tiver realizado um longo percurso de tomada de consciência. Esta é a essência do pelagianismo: conceber a graça como tomada de consciência da verdade e negar o proprium da graça, ou seja, a atração da caridade. O próprio Agostinho, no De gratia Christi et de peccato originali, observa como Pelágio reconhece o dom menor, o ensinamento, o exemplo a seguir para tomar consciência, mas nega o maior, o dom da inspiratio dilectionis, a atração da caridade. Era justamente para essa tendência que alertava o papa Bento XVI, quando, em 2006, lembrava aos sacerdotes da diocese de Albano que “não devemos transformar a crisma numa espécie de ‘pelagianismo’”.
Antecipar o máximo possível a idade para a admissão das crianças pequenas à primeira comunhão, e, por conseguinte, aos outros sacramentos, pode ser, de um lado, a reafirmação do primado da graça; e, por outro lado, pode evitar que os pais e as crianças percebam como um pedágio os longos anos de catequese preparatória. Diante da quantidade cada vez maior de adolescentes que se afastam da prática cristã, não seria melhor confiar mais na graça que nos meios humanos? E não seria também melhor esperar que, mesmo que se afastem – o filho mais jovem da parábola evangélica também se afastou –, a memória dos sacramentos continue neles como uma coisa boa, e não como um esforço cansativo semelhante ao pagamento de um pedágio? Na memória do jovem da parábola, a casa do pai, ainda que distante, continuava a ser um lugar bom, ao qual de alguma forma sempre poderia voltar.
As palavras de Santo Agostinho podem reconfortar essa esperança: “Quacumque in parvulis sanctis Ecclesia Christi diffunditur / Por toda parte, a Igreja de Cristo se difunde graças a crianças santas” (Enarrationes in psalmos 112, 2). "
Imelda Lambertini nasceu na cidade de Bolonha, Itália, no ano de 1322, num ambiente de muita fé e piedade. Desde tenra idade, assimilou com especial afeição a primorosa educação recebida. Seu amor a Deus, sua conduta incomum no dia a dia chamava muito a atenção dos pais. Era de fato, uma menina muito especial.Os jogos infantis não lhe agradavam como a oração. Costumava esconder-se nos locais mas ocultos da casa para aplicar-se a ela. Sua mãe, sempre a encontrava ajoelhada e rezando, quando sentia falta da filha em casa.
Ao completar 9 anos de idade a menina pede insistentemente para ingressar no Convento das Irmãs dominicanas, porém, a Madre superiora de todas as formas tentou persuadi-la a esperar, pois que a idade ainda não permitia que fosse admitida entre as irmãs do convento.
Como a insitência de Imelda tornou-se constante, a Madre, que conhecia seus pais, indagou se não estava feliz por ter pais maravilhosos e boas condições de vida em casa, tendo ela prontamente respondido que estava sim, muito feliz, que amava sua família, mas que as irmãs tinham algo a mais que lhe atraía muito: "Nosso Senhor".
Era a devoção à Santíssima Eucaristia que verdadeiramente lhe encantava e lhe enchia a alma de amor e devoção. Finalmente, a Madre chamou seus pais e lhes pediu permissão para que Imelda fosse admitida, pelo menos à título de experiência, já que o desejo ardente de ingressar no convento era já notório também para seus pais. Apesar de entristecidos, percebiam que Deus reservara algo de extraordinário para a pequena filha. Por isso, acabaram aceitando a proposta da Reverenda e consagraram-na a Deus.
Consumado seu ingresso, tudo lhe era motivo de encanto, os momentos de oração, o hábito das Irmãs, o silêncio. Era muito amada por elas que tentavam privá-la dos serviços e da rigidez da regra, mas nada adiantava, pois queria acompanhar as irmãs em tudo, participando plenamente e auxiliando nos trabalhos monásticos no convento. A Madre pedia que não a acordassem durante as orações noturnas, mas Imelda levantava-se no meio da noite e percorria os grandes salões do convento, caminhando e rezando silenciosamente as matinas.
A visita ao Tabernáculo fazia sua alma transbordar de alegria. Só a pronúncia de qualquer assunto relacionado a Eucaristia, fazia com que seu rosto se transfigurasse instantaneamente.
Ela desejava ardentemente receber a Santa Comunhão. Nessa época, as crianças não podiam receber a Primeira Comunhão com idade inferior a12 anos. Tal qual sua insistência para ingressar no convento, Imelda pede a graça de receber Jesus, mesmo que não tivesse completado a idade. Pedia isso com fervor tão intenso, que as irmãs comoviam-se pelo desejo que a pequenina nutria em receber o Senhor na Eucaristia. Mas isto ainda não lhe era possível, conforme as normas da Igreja.
Assim, aceitou com resignação os argumentos das Irmãs. Porém, à medida que o tempo passava, crescia mais e mais nela o desejo de receber Jesus Sacramentado. No ano de 1333, tinha ela completado 11 anos de idade quando, depois da Santa Missa, a última freira que saiu da capela observou que a pequena Imelda, como de costume, lá permaneceu sozinha rezando mais um pouco. Só que desta vez, a freira percebeu algo extraordinário:
uma Hóstia flutuava acima dela e lhe projetava uma luz branca. Rapidamente esta irmã chamou as outras monjas e todas prostraram-se diante deste milagre. A Madre, constatando que tratava-se de manifestação real de Deus para que a menina recebesse a Primeira Comunhão, chamou o pároco. Ao chegar com a patena de ouro nas mãos, o padre admirado, dirigiu-se até à Hóstia. Assim que aproximou-se da menina ajoelhada, a Hóstia pousou sobre a patena!. Assim foi-lhe administrada a Primeira Comunhão. Em seguida, vagarosamente Imelda baixou a cabeça em oração.
Imelda permaneceu assim, diante das irmãs por um tempo demasiadamente longo. Isto fez com que a Madre fosse até ela, que a nada respondia. Tentando levantá-la cuidadosamente pelos ombros, a menina caiu em seus braços, trazendo no rosto uma expressão delicada, de inexplicável alegria. Havia partido para o Céu naquele sublime momento. A alegria de receber Nosso Senhor foi demais para o pequeno coração que ardia pela presença real de Cristo na Eucaristia. Certa vez, Imelda já havia dito às Irmãs: "Eu não sei porque as pessoas que recebem Nosso Senhor não morrem de alegria".
A pequena Imelda Lambertini foi beatificada em 1826 pelo Papa Leão XII, e foi proclamada Patrona das Primeiras Comunhões em 1910 pelo Papa São Pio X. Foi neste ano que foi declarado que as crianças menores de 12 anos poderiam receber a Primeira Comunhão.
Até hoje, seu pequeno corpo se encontra intacto, depois de mais de 670 anos, numa redoma de cristal, na Igreja de São Sigismondo, em Bolonha.
Fonte: http://www.padremarcelotenorio.com/