sábado, 5 de julho de 2014

Centelhas Eucarísticas: Horas lânguidas



TENHO-as, e não são poucas. São horas em que não sinto vontade para nada. A terra com todas as suas flores e o céu com todas as suas estrelas não têm já nenhuma poesia para mim. O próprio Tabernáculo, esse mesmo, perde o seu encanto e passo-lhe de perto com indiferença.
Parece um exagero, mas é a verdade. Parece que Jesus se me tornou indiferente, e sou capaz de estar ao pé d'Ele uma hora sem lhe dirigir uma palavra... Na igreja, uma criança que chore, um vizinho que reze um pouco alto, uma pessoa que entre ou saia despertam mais a minha atenção do que Jesus... Em casa começo a fazer mil coisas, e não levo a cabo uma só; abro um livro espiritual e não encontro nele nada de belo; começo a rezar o terço e interrompo-o no segundo mistério... Às vezes faço como as crianças: ponho-me a revistar todas as imagens que tenho... Tantas recordações da minha infância, tantas lembranças de pessoas amigas, de mortos queridos, ocupação esta que noutros tempos me comovia o coração, pelas memórias que despertava, e me servia de útil meditação... Agora parece-me uma criancice, e depois dum minuto ou dois, ponho de parte a minha coleção como um brinquedo inútil.
Enojada desta minha languidez, entro em mim mesma, recolho-me dentro do próprio coração, a ver se encontro por acaso algum afeto recôndito que possa ainda despertar, e me traga um pouco de vida. Vejo se ainda tenho alguma esperança, pois de esperanças vive o coração até morrer... E encontro mais que uma; mas de que serve? São esperanças doentias, já não têm vigor... Jesus do Tabernáculo vê, por exemplo, que tenho ainda a esperança de tornar-me santa, a esperança de fazer uma boa morte, a esperança de alcançar o paraíso; mas vê também que de nada me serve o tê-las, e que se ainda as tenho é porque Ele as lançou no meu coração... É verdade que, se alguém tentasse arrebatar-me-las, revoltar-me-ia como contra um homicida; mas, no entanto, nem ao menos tenho o recurso duma tentação que provoque em mim uma reação e me desperte da minha languidez.
Que horas dolorosas estas! Quantas vezes dirijo então o meu pensamento ao Tabernáculo, a Jesus Sacramentado, e quase me queixo a Ele de me deixar estar assim! Mas que pode fazer Jesus? Talvez para meu bem Ele permita que eu passe destas horas... Mas, no entanto, eu não vejo que bem possa haver em tudo isto; e é este o meu maior tormento!
E amanhã, como irão as coisas? Logo de manhã tenho de fazer a comunhão, ouvir a Missa, rezar as minhas orações, e depois a minha meditação... As minhas ocupações... Seria para mim um dia de penitência, se tivesse que passar horas como estas...
Penitência!... Esta palavra é uma verdadeira revelação! Foi talvez Jesus que ma inspirou. Penitência! Quanta não devo eu fazer! E fazer penitência não é porventura um modo excelente de amar a Jesus, de servir a Jesus, de imitar a Jesus? E não se fará talvez penitência passando horas lânguidas, aborrecidas, pesadas, cheias... De nada?
Oh! Vede como Jesus é bom! Enquanto eu me queixava d'Ele, pensava Ele em mim, e com uma simples palavra solucionava todas as minhas dificuldades. Penitência!... A falar a verdade, há muito tempo que não pensava em semelhante coisa... E agora? Avante, que assim o quer Jesus!
Portanto sossego o meu coração e me resigno desde este momento a suportar a minha languidez com paciência. Resigno-me a não ser boa para nada, a não gostar nada de coisas espirituais, a estar ao pé de Jesus, unida a Jesus, sem sentir a Jesus... Contanto que eu saiba que não desagrado a Jesus. E se aquelas horas pesadas como chumbo caírem de novo sobre a minha alma e o meu coração, eu volverei o olhar para o Tabernáculo sem falar... E Jesus me compreenderá.
E Jesus poderá suportar por muito tempo a vista de uma alma que lhe quer bem, mas que não sabe dizer-lho, que desejaria praticar muitas obras santas e não pode mover-se, que precisa de tantas graças e não pode orar, que é viva e parece morta? Com aquele coração que tem... Será possível que queira abandonar-me?
Poderei iludir-me, mas parece-me ver a Jesus que me sorri, mas com um sorriso que me diz: não temas, ó filha, que eu não te abandonarei jamais.

Retirado do blog: http://almasdevotas.blogspot.com.br/

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